esqueci o teu corpo.
misturo, o teu, com
o da que descobria
as pernas de cobre;
uma das duas tinha
uma cova no sorriso
e a outra também --
nenhuma eras tu
esqueci o teu rosto
que vi mudar tanto.
teus olhos mudaram
de lugar, e o cabelo
ficou menor, comprido.
tua boca sumiu.
esqueci minha pele
das costas por baixo
das tuas unhas curtas,
e o nome mais bobo
que tu me davas era
igual à voz d'outras
me chamando sem saber.
esqueci o teu olho
numa fundura insone
escura como a noite,
verde, muito verde,
azul como os mares
infinitamente senfim
dos meus sonhos cegos
em que naufragaste.
esqueci a tua preguiça
agitando o meu domingo;
esqueci os teus pés
trazendo o inverno
e o verão do teu umbigo;
teu cabelos louros
encaracolando negros
no chão do meu banheiro.
esqueci o teu rosto
duas vezes e mais outra.
duas vezes tuas mãos
se perderam e voltaram.
teu sorriso quase que
me acha ontem no terminal
mas não era o teu
e eu não o reconheceria.
esqueci de tudo.
até do que eu lembro.
só não esqueci o teu nome,
que é o que mais me faz falta.