terça-feira, 23 de outubro de 2012

essa hora inversa de sentido
e adversa de desejo
e da vontade de versar

(converso só com versos
só quando já é tarde
ou só tarde demais)

estende por esses mares distantes
e esse mar em que repousam os deuses,
(esse mar que não me quer nem afogado)
a chaga virginal do meu cansaço.

lembro que escrevo, ou escrevia
(nunca ao dia: somente noite e somente fria)
mas não para mandar notícias,
não para ver na água o seu rosto de água,
não para ver seu rosto na água do seu rosto.

o poeta em mim anda em falta.

(partiu sem espanto pelo canto
em que s'empilham as tristezas)

um dia já coube o mar no meu bolso
as costas e o silício das areias
e o suplício verde da lua
e qualquer palavra nua
que queria virar verso

hoje cabe calar a boca
e bocejar para o infinito.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

se eu soubesse cantar
e eu dançasse direito
e se eu levasse jeito
para pensar devagarinho,
eu chegava de fininho
para chover nos seus pés.