essa hora inversa de sentido
e adversa de desejo
e da vontade de versar
(converso só com versos
só quando já é tarde
ou só tarde demais)
estende por esses mares distantes
e esse mar em que repousam os deuses,
(esse mar que não me quer nem afogado)
a chaga virginal do meu cansaço.
lembro que escrevo, ou escrevia
(nunca ao dia: somente noite e somente fria)
mas não para mandar notícias,
não para ver na água o seu rosto de água,
não para ver seu rosto na água do seu rosto.
o poeta em mim anda em falta.
(partiu sem espanto pelo canto
em que s'empilham as tristezas)
um dia já coube o mar no meu bolso
as costas e o silício das areias
e o suplício verde da lua
e qualquer palavra nua
que queria virar verso
hoje cabe calar a boca
e bocejar para o infinito.