essa é a tua natureza, assim restrita
no teu corpo, pequeno e branco,
que tu escondes de mim com tudo
que há de roupa, e com a distância
que me é a pena. é perpétua a tua
ausência, mas combina contigo e
com tua essência lacunar, que não se
preenche de nada, porque mudas
como a maré, em ondas constantes
de prazer que, aos poucos, consomem
teus desejos. apaixonas-te muito e
tudo que amas te muda da maneira
mais imperceptível, sussurras pela carne
que não és mais a mesma, numa língua
irreconhecível aos meus dedos, à boca
que te morde e aos ouvidos que escutam,
porque és própria, própria ao ponto
de ser oceânica e não poder ser contida
por nenhuma linguagem particular além
dos teus versos privados, que movem
os pés a palmilhar as encostas d'uma
existência de vidro e fogo, obscura
por trás de olhos doces e reflexivos,
mas não és doce, apesar de saber sê-lo
pelos lábios, és água e fogo, e amas demais.