atravessa o passado, um
tipo de dor. faz-se pelas
memórias, virulenta, um
se-espalhar que de tudo
toma conta. perfura-se
pelo passado, como se
fogo, o consumo de fato
após fato, o sedimento
da história s'esfarelando;
está no aniversário de
sete anos (como gênese)
e no dia que ganho um
hamster, tão frágil e tão
bonito que dá vontade de
comer. não me lembro
d'algum dia não senti-la,
indo à escola ou piscina
comendo carne ou fruta,
dentro da latinha do meu
refrigerante favorito, num
dia quente (e o refrigerante
gelado); quando ponho as
mãos nos bolso: está lá
quando respiro no inverno
e sai o hálito em nuvem: lá
quando digo "um bom dia"
dói-me, e senti essa dor
tod'as vezes, por todos os
anos, como um fenda no
fundo do peito, que é de
onde agora acabou de sair
esse vulcão.