sábado, 30 de outubro de 2021

me ocorreu com pavor
'inda jovem, que a lembrança
enquanto chave
do presente, é desequilibrada.
a memória forma uma rede
de passado em que dormimos
os dois, embalados pelos nossos
gestos, que existem hoje como
carícias fantasmas que afagam
nossos cabelos - brisa de verão
dos tantos verões que dormimos
juntos, de janelas abertas -
mas os momentos que nos sustentam
não são os mesmos.
eu me lembro, mas talvez lembre
melhor de outras coisas.
tu te lembras, mas talvez nem imagines
do que lembro eu,
etc.
mesmo assim, estamos os dois
suspensos do chão
mandando mensagens pelo tempo
que chegam enviesadas
que são lidas aos fragmentos
que não tem mais contexto,
rasuradas, com os sentimentos
manchados no papel e que
mesmo assim, mantém os nossos
pés no ar.