domingo, 19 de maio de 2024

falamos apenas uma espécie de poesia
sem nada a dizer
palavras que se encaixam como
brinquedos de criança
ocos por dentro
versos que voam de uma língua à outra
como aviões de papel
por um céu de fogo
(é a única explicação para a eventual
cinza em nossa boca)
vírgulas que, como ensinam as professoras primárias,
são uma pausa, são o silêncio
indeciso
o silêncio se vai ou não vai
mas sempre o nascimento
de uma nova estrofe
sobre
o tempo a chuva as tragédias nos jornais
as preocupações passageiras
as decisões drásticas de um destino
uma poesia sem nada
a dizer
pontuada pelo segredo
de tudo que evitamos dizer.