em outros tempos
eram muitas as vontades
(capturar um pássaro de fogo
feito uma palavra lançada ao ar,
metê-la no bolso, e retorná-la
ao silêncio, como se a apagasse
dos seus ouvidos; submergir no mar
como se fosse o teu perfume,
singrar o teu cheiro denso como se
fosse o sal, e eu um navio zarpando
das espáduas do teu continente
selvagem; flutuar na fumaça cinza
desse cigarro nos teus lábios cor
de sono, subir aos céus até alcançar
a estrela mais viva, enfiá-la na boca
como se fosse um diamante das
tumbas de açúcar de um rei morto;
caminhar um ano inteiro sem repetir
uma única rua, desenhar com os pés
um labirinto sem paredes, abrir o
mundo inteiro como uma laranja,
revelar as teias brancas sob as entranhas
vermelhas; e seguir em frente, sempre
em frente, mesmo que para isso avance
de pés nus, que caminhe sobre as águas, e
precise amarrar minha rede nos ganchos
das nuvens, e a ambição me consuma
até que eu vire apenas o pó da estrada...)
mas as vontades passam como os anos
até sobrar apenas uma:
sentir a euforia desta folha verde
quando (em eterno repouso)
lhe beija o sol.
domingo, 29 de setembro de 2024
depois do almoço
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