conto as moedas (metal
subitamente arcaico) guardadas
na caixinha de plástico
em seus incrementos de cem --
sinto saudades do tempo
em que decidíamos nosso destino
com uma moeda de vinte
e cinco centavos --
este era o valor de qualquer um dos dois
caminhos que se abriam
para o nosso futuro;
na frente do espelho
estão dois olhos, mas sei que estes
não são os olhos que enxergam
e são, portanto, quatro olhos;
quatro olhos e dois homens -
e dois mundos -
e no reflexo de um reflexo
quatro mundos, e em cada espelho
o reflexo dos outros espelhos
e em cada espelho, o infinito --
quando estou sem sono,
caminho dentro do espelho contando
os mundos felizes
e os mundos trágicos;
quando estou sem sono,
conto as letras do seu nome
para adormecer.
o truque do espelho é que se
com os olhos reais vejo a coroa
no reflexo mostro, à mim mesmo, a cara --
por isto eu e meu outro sempre
nos afastamos do reflexo
na direção contrária.
conto com a sorte
para que me encontres também
do outro lado,
além dessa janela em que outra vida
se deixa relancear --
é por isso que sorrio sempre
que nos refletimos
lado a lado,
não é porque existe, como eu sonho,
duas de ti; não é porque quando nos beijamos
são infinitos lábios pousando-se
(em infinitos universos) como pequenos pássaros
macios;
mas porque mesmo na direção
oposta,
tu estavas lá.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
minha vida como um grande matemático
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