a cama mudou-se com a casa,
alguma coisa ficou no caminho.
dormí-la é apenas passageiro
ligeiro acordo ela me expulsa.
minha cama não me quer mais.
olho-a inviesado da cadeira,
da rede, da porta, da noite,
como corpo estranho no quarto.
não é-la mais parto de sonho
e oponho-me em deitá-la.
não aguento sua indiferença,
seu ódio misturado ao meu suor.
há tempo não trepo mais nela
nem para olhar a lua pela janela:
cravaram-me dentes no asfalto
da rua do colégio, deitaram-me
línguas pela areia da praia, e
sorri para o brasil com a boca
cheia de sangue nos braços
eternos brancos sagrados
dessa pátria vencida.
talvez isso explique a cara feia
das minhas cobertas, meus lençóis.
a cama me jogou para o mundo
e eu ando sendo imundo por aí.
é o que me resta.
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