terça-feira, 20 de novembro de 2012

a cama mudou-se com a casa,
alguma coisa ficou no caminho.

dormí-la é apenas passageiro
ligeiro acordo ela me expulsa.
minha cama não me quer mais.

olho-a inviesado da cadeira,
da rede, da porta, da noite,
como corpo estranho no quarto.
não é-la mais parto de sonho
e oponho-me em deitá-la.
não aguento sua indiferença,
seu ódio misturado ao meu suor.

há tempo não trepo mais nela
nem para olhar a lua pela janela:
cravaram-me dentes no asfalto
da rua do colégio, deitaram-me
línguas pela areia da praia, e
sorri para o brasil com a boca
cheia de sangue nos braços
eternos brancos sagrados
dessa pátria vencida.

talvez isso explique a cara feia
das minhas cobertas, meus lençóis.

a cama me jogou para o mundo
e eu ando sendo imundo por aí.

é o que me resta.

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