segunda-feira, 6 de junho de 2022

essa uma alma que é maré
baixa desce a areia se areia
sobe aos joelhos cobre pele

essa uma alma enterrada
a cabeça para fora a maré
baixa respira olha céu mar
alta olha borbulhas a morte

essa uma alma que é maré
desce respira vê horizonte
uma vida com um horizonte
sobe a escuridão o poço
pé de pé o fundo do poço

essa alma maré como mar
o mar não come
não mata
molha lambe flutua
espuma
não é o poço não afoga
é onde singra
o barco do corpo intacto
bêbado da alma

domingo, 5 de junho de 2022

no peito ele a chama do fogo
o que o consome diz seu nome,
"o fogo", que crepita a carne
como quem pede um favor
permita-lhe arder como quieto
quase em segredo, é preciso
queimar com elegância:

a cabeça pensa o rosto vazio
bolsos na mão mãos em punhos
de lado assim caído à parede
um quem que não quer nada
fios fumegando da fina farsa
feito um feito incêndio de fato.

sobe o corpo ao céu em cinzas
aberto ele sorri às suas brasas
igual estrelas mas de combustível
os poemas os versos não escritos
fogo pálido fogo de pouco calor
assim em constelação na noite
é um nada, mas está à pago.