bem, a forma
só se revela no fim
e após um começo -
não é possível dizer
nada entre nós dois
sem que isso acabe
quer dizer, o sentido
disso, o conteúdo
do amor, este gesto
diário, este beijo
na testa, aquele beijo
nos lábios secos,
frios também (é inverno,
é demasiadamente
inverno), ou no calor
que me roubas sob
a coberta, são hoje conteúdo
do amor, mas serão
sentido? não há como
saber, como não
sabemos quando
tropeçará o pássaro
no meio do vôo e
descerá de cabeça
sobre uma margarida,
quer dizer, o curioso
caminho das coisas,
de todas as coisas, o
mundo inteiro segue
adiante aos tropeços,
mas sem cair, o presente
é um bêbado sem
rumo, mas um bêbado
feliz, um bêbado que
canta, amar também
é um horrível dueto,
e o melhor amor é esperança
de uma rapsódia
sem fim.
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
o passado guardamos
na geladeira
como comida velha,
um pote de plástico
com as palavras
que não aguentamos mais comer.
o passado fazemos
questão que azede lentamente
como o leite.
sentimentalmente, fingimos
que se o requentarmos voltará
a ser o agora,
o momento quente e vivo
e saído do fogo
que não passará outra vez.
o passado guardamos
com a esperança
de que dessa vez não mofe.
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