não sei se explicando estrago e chuto os pobres fundamentos bem (embora toscamente) erguidos e transformo em pequenas ruínas a serem sopradas pelo vento (e a minha cara de quem liga, como se tivesse alguém com o peito marcado por essas tolices; e quem já foi marcado fica, mesmo que num lugar escondidinho - subvertendo minha intenção: imagine uma cicatriz de coração que fica guardada nalgum lugar por detrás, um fundo de perna ou ponto de costa, e não se vê e um dia esquece; encontra um outro amor que se dedica a conhecer inteiro todos esses pedacinhos de carne e vê aquela ali, tecido de cicatriz entortada, a cor distinta, meio abandonada: pergunta quem foi e tá feito o escândalo). acontece que explico, porque me encho de motivos quando faço essas pequenas coisas, e tenho muito medo de ser mal compreendido (sou o único a entrar em desespero quando dizem que não mais me conhecem, ou que era outra pessoa diferente para pior, essas coisas), então, ó:
fica entre parênteses porque não existe, sabe, dá intensidade, mas não se sabe para quê: é tanto do entendimento quando do melhor; entender muito, falo - e 'inda lembro meus motivos, minhas frases tortas, minhas analogias absurdas; e amo-as mais hoje, quando minhas verdades retas estão à beira do mar se corcomendo em maresia (dia desses vi a praia inteira coberta de uma névoa forte do oceano, a fumaça d'água se subindo rodilhando pelo céu) e emagrecidas e rotas no horizonte (um dia escavem e finjam que são tesouros [falo com você que lê, pirata das minhas letras; olhe-me os ossos!]) -, de nossos corpos no esfregaesfrega primal de corpos s'aquecendo, trocando palavras por carícias, explosões de fúria por furiosas explosões entre nossos ventres simultâneos (o que não faz o amor!), etecéteras (há muito tempo para sexo ainda). estamos trocando significados, mas aí mora toda a poesia. imagino quem tenha lido errado. o muito melhor, creio, signifique logicamente o que diz de si mesmo. fiz isso uma outra vez, bem me lembro. a palavra emparêntesada era SÓ, que falava tanto de mim sozinho ao escrevê-las, quanto brincava pouco-caso do amor meu se fingindo pouco (tenho pequena vergonha e rancor da condição em que escrevi, mas essa é outra questão de hora outra); não a tenho porque a perdi num quadrinho de ferro, onde ele foi cativado por sei lá que tempo (se ainda lá, quase um ano; essa memória que ainda me mata), mas que está ao limite do abismo dum lixeiro ou de um poucocaso muito mais maldoso.
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