sexta-feira, 22 de outubro de 2010

balada para flores tardias (1)

quando nasce e ela me brota,
vira-me do avesso e me retráio,
como a flor encarando lenta
uma noite mais quente de maio.

as pétalas deitam sobre o corpo
e escondem meu interior aberto
(que a faca procura, e não a culpo
como a uma miragem no deserto).

deito cabeça no seu seio recluso,
e eu cada vez mais uma criança,
e cada vez mais em pranto luso,
espero paciente, e ela me cansa;

me diminuo, afino, desapareço!
quase não existo mais em mim.
ela olha, sorri e faz seu preço,
e finge se plantar em'eu jardim.

assim, quase morto, me entrego
e sangro linhas negras no papel.
já não a vejo tímida, estou cego?
sumiu e se escondeu do sol no céu.

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