sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ele, num triste ímpeto,
levantou-se das alturas
no seco das passadas
sempre lentas, inseguras

sem dar ou ter adeus
nos lábios secos trêmulos,
sem ver a forma tímida
nas cobertas; os pêndulos

dos relógios cantando
o tempo deles passado:
ela gemendo bêbada,
ele dormindo cansado

e tudo mais era música
na voz dela, frígida,
trocando versos líquidos
na superfície límpida

dos mares azuis vítreos
que, a luz, dilacera
para surgir refletida
no rosto que amanhecera

fechado, uma pintura
dos neons cáusticos,
cor do ontem apático
pelos corpos orgásticos;

como ela gozara aberta
a boca, olhos fechados
o corpo entregue, diáfano,
entre cobertas, os rápidos

movimentos deles, ávidos
de vírgulas e dois pontos
estendendo o embarasso
por uns amores infinitos

e os dois revoaram súbitos
num tropeço estranho
o corpo dela transformado
num frio suave de estanho

cobriram bocas em beijos
e quietos fizeram silêncio
ela queria o fantástico
ele sonhava outro vício.

ela dormia, única,
o sono dele, trágico,
escorria como lágrima
sobre rosto tísico.

e ela tinha muito bebido
das águas dele, venenosas,
e ele encerrava, atípico
as batidas do coração, revoltosas

ele, num triste ímpeto,
levantou-se das alturas
no seco das passadas
sempre lentas, inseguras.

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