segunda-feira, 28 de outubro de 2013

porque eu não desejo
desejar mais nada
nem querer querer-te
nem pedir cada
gota do alentejo
numa garrafa.

ela tinha olhos salgados
e lábios de sal, e a imoral
língua dela salgava o dia

ela tinha os olhos salgados
e o gosto era insone
de olhar para o teto.

quero-te mais que a água
do atlântico, e quero-te pacífica
e quero uma nau que desbrave
e não naufrague nunca
no redemoinho das tuas noites.

quero-te possuída de matar sede
e quero que me seques e me feches
a garganta e que estejas do meu lado
e tenha piedade do meu sufoco
e do meu afogamento, minha agonia,
meus olhos vidrados; meus olhos doces.

desejo a tua morte
com a fúria da fome

desejo não desejar mais nada
nem querer mais nada,
nem te querer, ou desejar-te
mas nada acontece.

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