todas as coisas que se movem
o tempo inteiro: a grama que
revela a vida do vento, a água
oculta que navega as folhas secas -
embarcações furadas do nascer
d'outono - naufragando na boca
do inverno, c'o frio chegando
furioso nos pêlos dos gatos que
s'embraquecem, as patinhas sem
luvas que eles esquentam contr'as
nossas costas nuas fora das cobertas.
o sol empalidece, também o calor
tem os lábios rachados, e beija-nos
co' essa luz dourada que nos sufoca
sem misericórdia; não há canção
que nos aqueça, voz de pássaro
noturno, ou coração de jardim e flor
em que escondamos o que o verão
tinha feito pacífico, felicidade sem
pressa; tudo está às beiras de secar
sob o céu cinza, s'esconder entre
as nuvens se arrastando no horizonte
e desaparecer -- menos você, que
é parte delírio, e não se congela.
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