domingo, 1 de maio de 2022

me lembro de ti
e me traio.
abro mão de tudo o que
tenho de bonito
de vaidade, as duas ou três
coisas que, no espelho,
não me dão asco.
soo como adolescente
do pior tipo, do tipo
romântico, do tipo
que encerrei em beijos
frios no ônibus para o
shopping, em mensagens
que se anunciavam na
interferência dos auto-
falantes, em poemas de
amor que não eram nem
bons poemas, nem de
amor -- como este aqui
também não é.

mas: eu me lembro, e
o poeta tem que sair de
cena, e sai pedindo
licença, em disparada
deixa-me, diz que eu não
assine, é melhor eu não assinar!
não sou eu, é o que ele diz,
e não é, não quando eu
me lembro
de te olhar, do teu rosto
tu minha, dizendo que era
minha, tu dando a entender
(nunca falando -- também não
tinhas o poeta em ti nessas
horas) que eu era, então,
o amor da tua vida
e eu me lembro disso, e
hoje tudo que eu penso é
se era esse todo o amor
que tu tinha pra dar, se era
esse o paroxismo da tua paixão
se isso era o máximo,
o que definia tua vida de amor --
talvez tenham te faltado os beijos
frios no ônibus;
talvez tenham me sobrado
os poemas que não
eram de amor.

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