tento escrever-te, mas faz frio
e dói-me os dedos; falta-me a
força qu'arrefece no inverno, teu
calor ausente pela minha pele
esfomeia o tato que alimento co'
as mantas e os lençóis deixados
cheios do teu cheiro; nas veias
deles, a geometria do teu corpo
é aparecida, como a santa, e
enche-me os rins de vapor. sei
de ti pelas sombras projetadas
na minha rotina; sei-te o gosto
pelo café frio, a saudade dos
lábios manchados co'as borras
na xícara - vejo-te subir marés
na lua cheia, erguer a encosta
que segura o mar no lugar, os
sussurros que te escapam dão
voz às conchas, e teus cabelos
voam de lado à carangueijos -
mas apareces-me sem erro, e
mesmo a mais banal aparição
pela minha cama - as cicatrizes
mais claras, o sono murmurado -
é milagrosa, porque és minha
para ter com a boca e com as
pontas dos dedos frios que
não te escrevem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário