essa nossa fotografia
não me lembra daquele dia
nem dessa alegria
que a lente forçava, arredia
quando nos decidimos sorrir.
me lembra dos meus óculos
sujos; de fazer minúsculos
gastos, carinhos maiúsculos
multiplicando nos cálculos
todos os beijos roubados;
me lembra do frio, do calor
de cenas obcenas do amor
que eu não sei mais viver;
me lembra sensatez sem sal
um dia e outro sempre igual
a aventura trivial no litoral
daquele, na praia, temporal
que estragou meu livro favorito;
lembra o feijão que não comi,
vodka misturada que não bebi,
dor que não senti (nem gemi),
declaração que eu não recebi
porque disse que Não (por ti?);
me lembra quando aconteceu
e dormi como se fosse Orfeu
nos braços de Eurídice;
e lembra quando eu te disse
que o amor eu não entendia
mas, meu deus, como eu sentia!
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