domingo, 21 de novembro de 2010

(ah, como não tinha percebido que pasárgada fala um tanto de morte? e manuel, de fé e de amor desiludido... tão claro, que o se matar parecia um despiste; era o próprio encerramento? morrer pela outra não tida [falo mais do uso lindo do tenho e quero, presente, possessivo, afirmativo?]? isso era um título, não uma análise.)

o cavalo, a força pelo torso
e o som seco do disparo
como o sangue num pedaço
de silêncio;

da viagem uma promessa
de retorno ao paraíso
a prostituta nem começa
a namorar, o prejeuízo
dos banhos n'água do rio
que corre um alvoroço,
não canto nem um assovio
se a vida foi o esforço;

e se do rei que veio a bala?
do meu amigo, eu traído?
quis me matar (por amá-la?)
de solidão!

podia tudo, naquela hora
sozinho, inventar ela,
comer maçã, comer amora,
navegar outra caravela;
guardav'a voz em urna grega
para não dizer do amor
nenhuma superfície vaga
ou mentira indolor;

agora, apenas à vida digo nada
no arrefecer dos meus bocejos,
só sabe a noite, nova amada,
dos meus beijos!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

maria não sabe ficar quieta

maria, em sua só forma
de menina, despindo
a mulher como máscara,
sentido lágrima surgindo,
e no brilho-silêncio dela,
olhou para o céu tinindo
e perguntou par'as estrelas
como ela podia, sorrindo,
também virar o rosto para o mundo?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

preciso de um título, mas tenho apenas um porquê

eu sabia forjar seu corpo em
todas as coisas sólidas e líquidas
com minhas mãos e minhas vontades,

porque a nudez dos beijos dos
seus olhos me ensinou
a caminhar sobre as águas.

sábado, 13 de novembro de 2010

café da manhã

as infâmias que te descem montanhas
seguem o fluente da cristalina nascente
dos segredos, nos teus lábios quedos,
e caem sutilmente, na calma crescente
dos lírios, teus olhos envoltos em cílios,
no estranho da tecelagem de um sonho,
feitos de dedo de'vaneios, rugas, medo
e um espinho, nascido só um pouquinho
mas afiado, como teu jeito insaciado
nos lençóis, transformando os girassóis
do sonho em fogo: pesadelo, o estrago
fisgando a voz, embotada de arrebóis,
que desperta, e bem no íntimo acerta
a incerteza, os teus olhos sobre a mesa
sobre os cafés, teu amor sob meus pés
e finaliza, como nosso mel que cristaliza.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ele, num triste ímpeto,
levantou-se das alturas
no seco das passadas
sempre lentas, inseguras

sem dar ou ter adeus
nos lábios secos trêmulos,
sem ver a forma tímida
nas cobertas; os pêndulos

dos relógios cantando
o tempo deles passado:
ela gemendo bêbada,
ele dormindo cansado

e tudo mais era música
na voz dela, frígida,
trocando versos líquidos
na superfície límpida

dos mares azuis vítreos
que, a luz, dilacera
para surgir refletida
no rosto que amanhecera

fechado, uma pintura
dos neons cáusticos,
cor do ontem apático
pelos corpos orgásticos;

como ela gozara aberta
a boca, olhos fechados
o corpo entregue, diáfano,
entre cobertas, os rápidos

movimentos deles, ávidos
de vírgulas e dois pontos
estendendo o embarasso
por uns amores infinitos

e os dois revoaram súbitos
num tropeço estranho
o corpo dela transformado
num frio suave de estanho

cobriram bocas em beijos
e quietos fizeram silêncio
ela queria o fantástico
ele sonhava outro vício.

ela dormia, única,
o sono dele, trágico,
escorria como lágrima
sobre rosto tísico.

e ela tinha muito bebido
das águas dele, venenosas,
e ele encerrava, atípico
as batidas do coração, revoltosas

ele, num triste ímpeto,
levantou-se das alturas
no seco das passadas
sempre lentas, inseguras.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

as asas brancas dos teus beijos
que me trouxeram-nos contra
a tempestade do vento, seixos
entre as águas, uma afronta

o silêncio dedicad'a minha boca,
sem licença, nem permanência
deu ao verso a liberdade pouca
das cobertas e da descência

a revoada deles em'uitos pousos
cegou meu corpo nas penas escuras,
lambeu minha carne; em alvoroço
espalhou ao chão minhas abotuaduras

e o vento e a chuva espalharam-nos
e beijaram, aladados, as cortinas
cobertas brinquedos cartas livros
com as mesmas vontades assassinas.

descansaram, ao fim, 'inda úmidos
e cansaram de mim tão entregue
sopraram-se pela janela, fúlgidos
e nas ruas vejo o gosto que segue.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

olha, esse aqui não é ruim e um dia vai ganhar mundo (não vai ser um dia bom), mas, por enquanto, só eu cheio de merda na cabeça pra deixar ele por aqui.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Para onde vai?
não sei.
Quando vai?
não sei,
se puder, hoje,
se tiver coragem,
agora.
Como vai?
não sei.
E agora?
não sei.

E como foi?
não sei--
sabe, tenho medo
as vezes
de lembrar errado
e deixar o passado
azedo.

Mas como vai?
não sei,
seguindo pela praia
até cansar da areia
até a sereia
se afogar.
daí pelos mares
sem risco de amores
e pelo deserto
debaixo das águas,
sempre a pé.

E com quem vai?
sempre,
infelizmente sempre,
com quem não esperar
a minha volta.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

minh'alma cansa

não falamos a mesma língua
pois nossas terras distantes
há muito se afastaram

a vertigem de olhar para trás
entre o fundo do que me lembro
e a superfície do que sou
não reconhece a volta do tempo;

o eco do que contávamos
retorna como uma onda à praia
após conhecer o mundo;
a borbulha é uma lembrança
a me cobrir os pés de areia
e a primavera traz flores semelhantes
mas não as mesmas;
teu nome, nessa voz, é lilás
verde nas águas, branco na espuma;
mas minha boca compreende apenas
o sal dos teus olhos
que mudavam a cor junto com a luz
e, no poente, eram negros.
interrogado sob a mira de uma arma

tenho respostas para todas as perguntas
sem resposta
que ninguém faz.

sei descrever o gosto do amor
igual em cada boca;
sei explicar a costura da alma
à alma outra;
sei os motivos e as razões
dos loucos
e dar voz a suas loucuras.

as perguntas não procuram respostas
toda resposta em busca de sentido
está perdida.
as coisas só existem quando são.
e não cabem mais as respostas
no que nós somos.

o passarinho se rende
à gaiola
e mesmo assim canta
e mesmo assim vive
porque (essa é uma resposta)
ele sempre vai poder fazer
todas as coisas de passarinho
que quem não é passarinho não pode.
a sombra dos padrões, pintam as paredes,
do teu corpo atravessado pela luz
às margens, corações das folhas verdes,
estendidas aos pés da minha cama;

sepultas o silêncio em véu de noite
o cheiro dos cafés, saídos do fogo,
dança contigo pelo banheiro, assiste,
a tarde, aos teus movimentos tortos

e o antigo dos sons do meu sufoco
encerra a minha paixão de drama.
teu orgasmo, entre a coberta, cênico,
dilecera cínico no meu peito, e a minha cama.